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Numa terra longínqua, bem para
norte, onde os dias são curtos e as noites demoradas, existia uma floresta
densa, cheia de mistério, que muitos acreditavam encantada. A alguns anos
atrás, naquele mesmo lugar, não havia nada mais que uma simples planície
cortada por um rio, onde o arvoredo era escasso e esporádico pelas suas
margens. Agora a planície dava lugar a este imponente labirinto.
Esta floresta era composta, tanto, por árvores nativas, como exóticas. A uniformidade da madeira demarcava-a, claramente, de todas as outras florestas, debaixo dos desígnios aleatórios da
natureza. Era um habitat de muitas espécies que, ou se adaptaram à mudança
drástica do ambiente, ou foram atraídas ao que lhes pareceu o lar ideal. De
qualquer forma, depois de lá dentro, era-lhes impossível sair, enclausurados numa
área que lhes parecia infinita.
O clima era agreste. Com as
manhas vinha a bruma, já as tardes eram empurradas por um vento que revelava o enigma
por detrás da neblina. As noites eram o contraste, com uma quietude bem-vinda. Era
na noite, que a floresta atingia o expoente da sua beleza, era nela, que Ele se
sentia confortável, diziam todos.
Entre os animais, subsistia uma
lenda. Acreditavam que aquele lugar tinha sido plantado por um único ser, ao
qual chamavam de, Jardineiro. Isso nunca foi testado claro… até agora. Três
representantes, três animais escolhidos, para descobrir a verdade, um urso, um
pavão e uma coruja.
Dizia-se que o Jardineiro vivia
no centro da floresta e, foi para lá que a demanda os levou.
Depois de várias provações, tempestades,
cheias, fome e doença, suas persistências prevaleceram e, atingiram o seu
destino. O que os esperava deixou-os atónicos, deram consigo numa clareia,
óbvia raridade naquele arvoredo cerrado. A luz, pálida, que os envolveu, era-lhes estranha, desenhava-lhes
sorrisos e, quase lhes serviu de prova para uma magia superior.
Haviam dois rochedos que germinavam do solo e um lago no centro da
clareira. A erva estava húmida, inclinada pela pequena depressão, daí o lago.
O pavão, embora maravilhado,
fascinou-se como a luz lhe realçava a plumagem.
A coruja pensou, na sorte daquele lugar o ter ali, de como só um dos seus poemas poder fazer juízo à sua beleza.
E o urso, bem o urso, ficou a contemplar a clareira,
nunca tinha visto uma antes, nem sabia descrever uma até aquele momento, aliás, acho que não o saberia fazer mesmo depois de estar numa.
No topo de uma das pedras, viram
uma criaturinha, que oferecia seus pensamentos à água.
Os três animais entreolharam-se.
Não podia ser ele o, magnifico, Jardineiro. O pavão viu uma criatura de uma fealdade
comum, ou nem isso. A coruja, um ser como todos os outros, intelectualmente
inferior. E para o urso, o animal à sua frente, pareceu-lhe demasiado frágil e
débil para ser o criador de tudo. Aguardaram então.
A noite passou, os sonhos foram bons, mas se há algo que
aprenderam nesta viagem longa é que, nada é dado que não vá voando. Os animais que
não estavam habituados à luz do sol, sem a proteção das árvores, acordaram com
os primeiros raios.
Refrescaram-se no lago e esperaram mas, o dia não troce
melhores respostas que a noite e, embora bonito, a “magia” do lugar parecia ter
desaparecido. Frustração instalava-se. "Que faziam ali?", questionavam-se os três.
Só porque não encontraram o que queriam, não quer dizer que não tenham encontrado a
verdade.
A lembrança do lar puxava-os para uma decisão, que, os animais
fatigados não puderam resistir. Até a criaturinha havia desaparecido. Optaram
por regressar a casa.
Ao embrenharem-se finalmente na floresta, questionavam-se, agora que sozinhos, livres do bom senso que os impediu, quando na
companhia do alvo que queriam criticar: "Que espécie de animal seria aquele?"
Estranho comportamento tinha. Irritadiço quando apareceram,
demasiado fixado no lago, que até a eles lhes contagiou, e de manhã, longe de
ser encontrado.
Pareceu-lhes o único verdadeiro mistério a resolver, depois
de tamanha demanda.
O pavão arriscou tratar-se de um roedor, por causa dos seus
dentes, arrepiou-se.
A coruja lambeu-se, com tal menção.
Já não tinha uma refeição decente há três dias. Sentiu saudade do seu
território, abundante em comida, saudades da caça. Nasceu-lhe um brilho no
olhar. Contrapôs, esboçando um sorriso, janela indecifrável para um novelo de
pensamentos. Embora pudesse apostar ser um primata, não pode
deixar de troçar, e dizer, tratar-se de um jumento. Riram todos.
Ao urso pareceu-lhe um coiote, pois
nem porte de lobo tinha. Espécie irritante, que vivia á custa dos predadores de
grande porte roubando-lhes a comida.
Fosse o que fosse, os animais não
conseguiram chegar a uma conclusão definitiva. A criatura na clareira, era
demasiado diferente aos olhos de cada um. Pois cada um, demasiado confiante nos
seus atributos, via, com arrogância, o oposto de si naquela criatura.
Longe já ia o trio, quando, a
clareira acolheu novamente o seu residente. A noite voltou, e o ser
concentrou-se no céu, não no lago, que só refletia a verdadeira peça de sua
admiração.
- De dia prefiro as sombras e de
noite sinto-me confortável. O meu é um caminho solitário, mas tu o iluminas. Escondes-te por detrás das
nuvens, e sinto-me perdido, sustenho a respiração até reapareceres. Plantei toda esta
floresta, este chapéu, para que mais ninguém te pudesse contemplar, lua minha. Se ao menos conseguisse, também, soprar cada nuvem que cruelmente te esconde de mim. – Declarou-se o
homem ao foco da sua paixão.