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"O esforço para unir a sabedoria e o poder raramente dá certo e somente por tempo muito curto" (Albert Einstein) |
Eu nasci diferente.
Ninguém sabe a nossa origem, mas entre o que sabemos fica a
certeza que chegará o dia que nossos poderes se revelarão. No entanto nada me
pôde preparar para o que viria. É diferente para cada Especial, a mim calhou-me
o poder de parar o tempo. Enquanto criança imaginei muitas vezes que tipo de
super-herói me tornaria, que feitos magníficos me estavam reservados. Era uma
lógica coerente. Com capacidades sobre-humanas eu me tornaria um herói, como os
muitos que seguia nas séries de animação. Mas quando recebi as minhas
habilidades em adolescente ou pelo menos com a mentalidade de um, perdi-me em
partidas. Na zona morta, como a chamo, eu caminhava enquanto tudo ficava
travado. Imaginem as possibilidades. Brinquei com as pessoas, coisas simples ao
princípio, baixar calças, tapar olhos, trocar bebidas, lembro-me um dia de
entrar numa missa e despir o padre e ainda ter pachorra de despir umas beatas,
só para depois me deliciar com as suas reações quando voltava a fazer a roda
do tempo girar. Não me lembro de rir tanto como naquela altura. Com a
experiência as minhas partidas aumentaram de tom e malvadez.
Eu nunca me vi como um vilão, mas nunca me tornei o herói
que me havia esboçado. Meu sentido de justiça ainda me fez escrever alguns
certos de errados, mas na maioria das vezes para benefício próprio. Recorri a
humilhações e até a agressões físicas. Não havia onde eu não pudesse ir,
dinheiro passou a não ser problema. Não havia o que eu não pudesse fazer, as
mulheres… arrogantes, pretensiosas, convencidas, míopes para alguém como eu, passaram
a estar ao meu alcance, não havia quem eu não pudesse ter. Eu era
verdadeiramente livre, as regras não se aplicavam a mim, caminhava as ruas como
um deus incógnito.
Mas aí ela veio e mudou a ordem natural das coisas. Ela
viu-me antes de eu parar o tempo, reparou em mim, viu-me por quem eu era e
simpatizou comigo. Sabia que a tinha de ter, mas lutei contra o facilitismo,
não queria como o tinha feito até ali. Não foi fácil, demorou, mas consegui-a e
foi melhor do que pude imaginar… era recíproco. E a nossa primeira vez, foi
mesmo a primeira vez.
Amei-a tanto que cheguei mesmo a partilhar o meu segredo com
ela. Divertimo-nos tanto, pude-a levar comigo, passou a ser minha companheira
nas minhas aventuras. Orgulhoso mostrava-lhe o meu mundo e eu via-o pelos seus olhos. Mostrou-me uma maneira diferente de apreciar o
meu dom (como ela o chamava). Por um momento acreditei que ela me fosse tornar
uma pessoa melhor e ela o fez… por um certo período. Fez-me jurar nunca usar
meu dom contra ela. Uma promessa que não consegui manter. Sempre que senti a hipótese de a
perder, usei os meus poderes para a redirecionar na minha direção.
O triste é que agora não sei se é minha porque quer, ou se é minha
porque não lhe dei outra chance.
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