domingo, 15 de setembro de 2013

O sapo que sonhava ser um príncipe

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Certa vez, havia um sapo que vivia num charco com uma torre como vizinha.
Este parecia ser um sapo como tantos outros, ele comia moscas, coaxava e saltava como todos da sua espécie. Havia só uma pequena diferença. Acreditava ser o produto de um conto de fadas, um príncipe preso no corpo de um sapo.
Não o sabia explicar bem, apenas sentia-o.
Guardava esses pensamentos para si, pois sabia que os outros diriam trombudos: “Não existem contos de fada.”
Se ainda não notaram, o nosso amigo sapo tem uma imaginação fértil. No lugar da torre decrépita, conseguia ver um castelo, cavaleiros, dragões e belas donzelas. Tolices, diriam todos na sua família.
Certa noite, viu uma estranha luz emanar do topo da torre e com ela a mais bela melodia que já tinha ouvido.
Seria este um sinal? Sim! Era tão óbvio. Porque razão estaria ali uma torre, senão para fechar uma princesa (pensou)?
No seu contentamento coaxou, mas estacou assim que tudo ficou em silêncio. Teria amedrontado a sua amada? Mas não, devagar, mas firme começou a cantar outra vez. E assim continuaram em simultâneo, largas foram as noites.
Uma vez, com a lua cheia assistir, o sapo pareceu confuso ao ver uma jovem humana na margem. Curioso, mas cauteloso aproximou-se.
- És o meu príncipe? – Perguntou ela.
O anfíbio olhou e viu os lençóis pendurados pela torre. O seu coração pulou!
É sabido que as princesas nas torres não estão verdadeiramente presas, meia dúzia de lençóis amarrados uns aos outros e ficam livres por sua conta. Não, uma princesa numa torre não está presa, mas á espera de ser resgatada.
Olhou a jovem outra vez. Tinha grandes olhos (característica muito apreciada pelos sapos) e um cabelo encantado que mudava consoante o seu humor.
- És o meu príncipe? – Perguntou outra vez. Claramente sabedora dos contos de fadas.
O sapo anuiu. A princesa bateu palmas, cresceu um sorriso e seu cabelo ondulou-se.
Consertou a voz, endireitou a postura.
- Meu doce príncipe, parece que estamos ambos a precisar ser resgatados.
Debruçou-se sobre ele, pegou-lhe gentilmente e agiu com o melhor do seu conhecimento para o quebrar de um feitiço com um beijo.
- Magia. Existe mesmo! – Palavras invés do rouquejar.
A alegria da confirmação quase que superava a maravilha da transformação.
Pernas longas, orelhas, dentes, era agora um humano.
Sentiu-se tonto no entanto, tão longe do chão. Não foi preciso muito tempo até tropeçar e cair. Um coro de vozes ouviu-se do charco, já se sabe que é norma todos os que caem serem motivo de chacota. O diferente é uma princesa de joelhos na lama a encorajar que alguém se levante com um doce afagar na face.
Grandes olhos, grandes expectativas, pareceu-lhe ver.
De pé novamente e sentiu-se desconfortável, desta vez com as suas roupas espalhafatosas, cores alegres não lhe pareciam combinar. Até a coroa lhe ficava torta tapando-lhe os olhos.
Foi aí que um terrível pensamento se abateu sobre o nosso amigo: E se invés de um príncipe, fosse apenas e só, um sapo que sonhava ser príncipe?
Tão rápida como a transformação foi a regressão ao seu estado original. Medo é uma maldição poderosa, uma que só pode ser vencida de dentro para fora.
O cabelo da princesa caiu liso. O sapo fitou aqueles olhos grandes e ainda bem que já não podia falar (fungou).
E então o sapo rastejou para o seu charco e a princesa subiu a sua torre.
A coroa mingou, mas permaneceu na cabeça do sapo, que ficou para sempre como o sonhador que não se deixava viver seus sonhos.

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